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04/09/2011

Série Calu: Parte 4

  Passeamos durante toda a manhã, e pudemos nos conhecer melhor. Ela me falou que era do Rio, e mudara-se há poucos dias. Tinha alguns amigos que considerava seus irmãos e os conhecia desde pequena. A distância entristecia-na e a situação que passava em casa só piorava. Não conseguia imaginar esse caos, pois ela me transpassava tanta tranquilidade e equilíbrio. Nada a ver com uma pessoa de família desequilibrada e brigada. Mas com o tempo, eu entenderia o porquê disso tudo e saberia que toda aquela imagem era apenas uma capa blindada.
 
  Ao observá-la percebi que ela prestava mais atenção em paisagens com aspecto natural ou histórico, e obras modernas e deslumbrantes não a impressionava.Isto ficou ainda mais claro quando chegamos à praça central, que abrigava belas árvores e uma igreja bicentenária. Geralmente eu nem a notava, mas naquele momento não foi possível deixar de reconhecer seu carisma com as palavras daquela entusiasta. Catharina apaixonou-se pelo lugar logo ao avistá-lo e fez questão de fotografar cada metro quadrado que possuía. Eu apenas ria. Como ela era cômica! Abraçava as árvores, fazia caretas e click! Poses, ângulos e paisagens, sorrisos, tudo era um flash! (hahahaha).

  Enquanto tomávamos o prometido sorvete, sentados num banquinho verde perto de um pequeno chafariz, ela perguntou:
  ― Qual o nome de sua banda?
  Eu a olhei perdido, e fiz cara de quem não entendi. Soprou irritada o cabelo do rosto e explicou:
 ― A banda que você me convidou para tocar. Qual o nome?
 ― Ah, a banda. Bem, eu não sei ainda. Diga um nome que gosta.
 ― O quê? Como assim não sabe o nome?
 ― Na verdade a banda ainda não é oficial. É apenas um projeto coletivo. Não iniciamos pela falta de um diferencial. Nós apenas fazemos um som de vez em quando.
 ― Ah, entendi. E o que seria esse diferencial?
 ― Você.
 ― Ham? Esta brincando, né?
 ― Não. Pense comigo, você toca piano. Seria o nosso lado clássico despontando, um espaço divido entre a leveza de seus dedos e a atitude de nossas guitarras e baterias. Combina conosco e acredito que também contigo.
 ― Sim, combina. Mas, os outros componentes são a favor de mais um?
 ― Sem dúvida. A sua entrada será a nossa inspiração para novas músicas. Um renovo musical.
 ― Rsrs, assim fico lisonjeada. Não é todo dia que se serve como inspiração.
 ― haha, não fique. Você ainda será muito elogiada. ― declarei. Momento tenso e quieto. Ela fitou o chão com as bochechas vermelhas e eu me perguntava se me precipitei ou não. Para quebrar o gelo, mudei o assunto.
 ― Quando começas a estudar?
 ― Amanhã. Não me dará trote, né?
 ― Haha, não darei. Mas tenho garantia quanto à galera.
 ― Ah não! Já passei por isso no inicio do ano. Não quero parecer um arco-íris de novo.
 Rimos.
 ― fique tranqüila, eu falo com a galera e eles não farão nada. Apesar de que seria hilário te ver pintada.
 ― Não, seria deprimente.
 ― Deixe de exagero. Bem, vamos lá na escola. Vou te apresentar meus amigos.
 ― Não dá, pois vou para casa. Já passei tempo demais na rua.
 ― Ah, que pena. Então vamos para seu primeiro dia de aula?
 ― Seria ótimo.
 ― Então ta. Amanhã dez para as seis eu estarei lá.
― Certo, estarei na porta. Você foi bem legal comigo hoje. Muito obrigado, Lucas!
― De nada. Foi ótimo conversar com você.
― Até amanhã então.
― Espere. Eu não disse-lhe, mas você vai gostar muito da galera.
― Se eles forem como você, tenho certeza que sim.
Dessa vez eu fiquei vermelho. Ela sorriu e se foi.

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